17/02/11

Os “pecados” de José Guilherme

Em Dezembro passado, na tarefa de escolher o sucessor de Jorge Costa (que nessa altura deixara a Briosa – e o futebol – após duas derrotas copiosas consecutivas, num processo que ainda hoje permanece envolvido em mistério), a nossa Direcção escolheu José Guilherme, um professor universitário de 45 anos.

Sem grandes credenciais como treinador principal (teve passagens fugazes pelo Sp. Espinho e pelo Esmoriz), José Guilherme evidenciou-se como treinador das camadas jovens do FCP e, sobretudo, como preparador físico da Selecção Portuguesa na malograda “Era Queiroz”. Às dúvidas e cepticismos iniciais, José Guilherme respondeu demonstrando coerência na conferência de imprensa da sua apresentação em Coimbra. Com um discurso bem preparado e com a lição bem estudada, José Guilherme tentou falar ao coração dos adeptos (sobretudo à Mancha Negra), objectivo a que não terá sido alheia a integração de J.A. Costa (um histórico da Briosa) na sua equipa técnica.

A José Guilherme pedia-se apenas uma condução tranquila da Briosa à manutenção, tentando avançar o mais possível na Taça de Portugal, tendo-lhe sido oferecido um contrato de apenas seis meses, com duas épocas de opção para o clube. A duração do contrato reflectia precisamente a tal falta de credenciais a este nível, implicando uma reavaliação no final da época, tendo em consideração o desempenho da equipa no decurso destes seis meses.

Oito jogos depois, com a Briosa nas meias-finais da Taça de Portugal e em “queda livre” na classificação da Liga Zon/Sagres, os nossos adeptos têm muitas dúvidas acerca do seu valor enquanto treinador.

Por mim, como tenho deixado aqui expresso em diversos posts, já não tenho grandes dúvidas.

Mas em vez de “críticas vãs”, começo por apresentar os números dos jogos que dirigiu:

09-01-2011 - Liga ZON Sagres 2010/11: Académica 0 - 0 Paços de Ferreira

12-01-2011 - Taça de Portugal 2010/11: Académica 3 - 1 União da Madeira

16-01-2011 - Liga ZON Sagres 2010/11: Académica 0 - 1 Benfica

22-01-2011 - Liga ZON Sagres 2010/11: Olhanense 2 - 1 Académica

28-01-2011 - Taça de Portugal 2010/11: Académica 3 - 2 V. Setúbal

03-02-2011 - Taça de Portugal 2010/11: V. Guimarães 1 - 0 Académica

06-02-2011 - Liga ZON Sagres 2010/11: Académica 3 - 3 Beira Mar

13-02-2011 - Liga ZON Sagres 2010/11: Naval 3 - 1 Académica

Temos, então: 2 vitórias (uma das quais contra um adversário da 2ª Divisão B), 2 empates (em casa, contra adversários directos) e 4 derrotas (2 das quais contra adversários directos). Creio que os números falam por si, mas se isto não for suficiente, acrescento que em todos estes jogos os únicos em que vi a equipa fazer algo em campo foi precisamente contra o SLBê e o Setúbal. De resto... Nada... Uma equipa completamente "perdida" em campo, sem fio-de-jogo, sem objectividade: uma completa nulidade e uma afronta ao adepto da preta.

Admito que comecei por dar o benefício da dúvida a mais esta aposta de risco da nossa Direcção, até porque, ante o desconhecimento e sem qualquer tipo de teste às suas capacidades, só a má fé permitiria outro julgamento. Ainda assim, à medida que os desafios se sucediam, fui-me apercebendo de algumas falhas mais ou menos graves, de lacunas mais ou menos evidentes e, sobretudo, de erros tácticos e de casting mais ou menos gritantes...

De tudo isto fui dando conta neste nosso espaço (sem me esquecer de assinalar – os poucos – méritos que entretanto lhe podiam ser atribuidos), ao longo de vários posts em que fui apontando aquilo o que considerava menos correcto, sem omitir a minha opinião acerca de cada assunto.

Ora, os resultados inerentes às sucessivas falhas do nosso “treinador”, trouxeram-nos para um cenário que, há dois meses, ninguém podia antever (lembro-me, a propósito, de ter lido em algum sítio que “só um milagre nos colocaria na luta pela manutenção”). Pois bem, já cá estamos: após exibições sofríveis, resultados frustrantes e a crescente contestação dos adeptos ao “treinador” e à equipa, estamos a duas derrotas e um empate da linha de água (e pelo caminho já desperdiçámos oportunidades de ouro para assegurarmos a manutenção!).

A quem devemos, então, apontar o dedo?

Sendo que nesta história não há inocentes (os Dirigentes e os próprios jogadores também têm a sua quota-parte), para mim, o principal culpado é o nosso “treinador”, José Guilherme.

Na minha opinião, a nossa assunção do papel de “bombos da festa” da 1ª Liga deve-se, sobretudo, a quatro pontos fundamentais: aos sucessivos erros tácticos, à constante aposta em Habib Sow (ou “Habébias Show”, como se diz por aí), à falta de um central de qualidade para colocar ao lado de Berger e, por fim, ao discurso pouco ambicioso transmitido quer aos jogadores, quer aos adeptos.

Erros tácticos

Não repetirei aqui as gritantes falhas tácticas que a nossa equipa evidencia, uma vez que já o fiz em diversos posts que tenho publicado aqui no “Capas”. Ainda assim, só para recapitular, relembro-vos a teimosia (que na minha terra tem outro nome...) em alterar o sistema táctico (do 4-3-3 de contra-ataque para um 4-1-3-2 defensivo) e os princípios de jogo há muito incutidos na equipa, a meio da época, adaptando jogadores a posições a que não estão habituados e a movimentações que são quase a antítese daquilo o que vinha sendo trabalhado (como é do mais elementar, o treino de tais alterações tácticas necessita de muito tempo e algumas experiências, o que só será viável numa pré-época, e não na fase decisiva do campeonato). A somar a isto, é de relevar a asneira constante em recuar a equipa assim que nos colocamos em vantagem, recuando todas as linhas, transformando o trinco num terceiro central (um claro 5-3-2!) , entregando por completo a iniciativa ao adversário, confiando em São Peiser. Acho que os resultados têm falado por si...

“Habébias Show”

Também já batemos tantas vezes nesta tecla que começa a ser cansativo quer para quem lê, quer para quem escreve. Só um cego – repito, um cego – não vê que este senhor não é jogador de futebol, nem aqui nem em lado nenhum do mundo em que o jogo se jogue com os pés e com uma bola (“redonda”, portanto, uma vez que para o futebol americano até já mostrou alguns dotes)! Continuo a dizer que nada teria contra o rapaz se não o visse com a nossa camisola vestida (a mesma que vestiram Gervásio, Artur Jorge, Toni e outros...). De quem é a culpa? Aqui, até o próprio Jorge Costa tem o seu quinhão: quem é o treinador que, no seu perfeito juízo, dá o seu aval a uma contratação destas? Outro grande culpado é o nosso departamento de prospecção (que eu até duvido que exista...): só por preguiça ou por falta de brio profissional é possível compreender como não se encontrou um executante mais capaz (a mim, por exemplo, bastaram-me 15 minutos - e mesmo assim não me perdoo por ter demorado tanto tempo) . Por fim, o mais culpado de todos, José Guilherme, claro: que não goste do Luiz Nunes por ser pesado ou por ter fraca condição física, ainda se compreende. Agora, seria sempre preferível ir buscar alguém aos juniores ou satélite para colmatar a baixa de Orlando e Amoreirinha, do que colocar este senhor em campo (ainda por cima, fora da sua posição, admitindo que tenha uma dentro do campo...). Nunca, mas mesmo nunca, se devia colocar o Sow em campo (até para não atentar contra a integridade física dos outros jogadores...). Como disse no Domingo um locutor da “Antena 1”: “- A Académica até joga melhor sem ele em campo, mesmo com menos um!”

A não contratação de um central na reabertura do mercado em Janeiro

É um assunto de que também já abordámos em diversas ocasiões (até fizemos uma “sondagem”). Já antes das lesões de Amoreirinha e Orlando sabiámos que só tínhamos um central de qualidade no plantel (Berger), mas como “nada é tão mau que não possa ficar pior” (Lei de Murphy), foi com as lesões daqueles dois jogadores que percebemos o quão gritante era esta lacuna... E eis que aparece Sow a central... O mercado de Janeiro apresentava-se como a única oportunidade para remediar a situação: mas nem o treinador pediu, nem a Direcção apresentou um jogador para esta posição. Os resultados são conhecidos...

Discurso pouco ambicioso

Há tempos, vi num canal de televisão uma reportagem sobre Mourinho. Nesse trabalho, entrevistavam-se diversos jogadores e staff técnico que já trabalharam com El Especial sobre quais as qualidades que fazem dele o Melhor do Mundo (assim, com letra grande, porque a distinção já foi entregue pela FIFA). Lembro-me sobretudo das palavras de Lampard que dizia (num inglês muito mal traduzido pelo canal em questão): “ - Sabíamos que não éramos os melhores do mundo, mas quando ele o dizia, sentíamo-nos capazes de vencer qualquer adversário”. Este é um exemplo de como se deve motivar um jogador... Imagine-se agora que Mourinho dizia: “ - Não se preocupem, basta um pontinho. Mais 9 e continuamos na 1ª Divisão...” Quer dizer, os mesmos jogadores que tinham andado 5 meses a lutar pelo 3º e 4º lugar, ouvem, a 16 jornadas (!!!) do fim do campeonato, que basta jogarem futebol suficiente para ganharem 3 jogos. Não é preciso ser o Mourinho para adivinhar o resultado deste discurso... É como quem diz aos jogadores e adeptos: “- Apesar do que já demonstraram esta época, não têm qualidade, nem o clube tem estatuto para sonhar com algo mais. Reduzam-se à “aurea mediocritas” porque é esse o vosso lugar...”. E é tanto assim que agora até esses 9 pontos parecem uma miragem (sim, não me parece nada fácil conseguir mais 7 pontos a jogar como estamos a jogar...).

E pronto, aqui fica a minha opinião em relação ao nosso mau (aliás, péssimo!) momento. Aliás, para que não restem dúvidas, deixo-vos a minha convicção, sem “meias palavras”: pelo que já mostrou, este senhor não é treinador para um clube como o nosso (aliás, para nenhum que tenha algumas ambições).

O que fazer? Pois bem, por enquanto, o seu contrato é de 6 meses, pelo que adianto desde já que em circunstância alguma deve ver esse vínculo renovado (nem que vença a Taça de Portugal!). Mais: para mim, a menos que vença o Rio Ave deverá ser despedido imediatamente, antes que seja tarde demais...

Saudações Académicas,

Pedro Monteiro Almeida

P.S.: Como já dificilmente voltarei a escrever algo antes daquele jogo decisivo, apelo ao brio dos jogadores para que dêem tudo pela nossa camisola. Não se deixem enganar: se isto não muda depressa, daqui a três meses estamos na 2ª Divisão!

3 comentários:

mitic0 disse...

Mais um diagnóstico assertivo e lúcido.

Quanto ao próximo jogo espero que o treinador não invente. Que ponha as melhores unidades em campo e jogue no sistema habitual, é o que desejo..

Abraço.

Tiago Fernandes disse...

Companheiro,

Este teu post constitui uma súmula muito interessante de muitas das coisas que temos aqui escrito.

Não obstante este facto, emites opiniões muito válidas sobre a situação actual da Briosa, com as quais de resto concordo em absoluto.

Um abraço

Anónimo disse...

Não veio nenhum central porque o senhor engenheiro Luis Agostinho(não sei o que anda na briosa a fazer)não tem a capacidade de analisar nada. Quer é protagonismo e não vale é nada como homem.