23/02/11

A "odisseia" de Ulisses: os grandes desafios

Ficámos ontem a conhecer o nome do substituto de José Guilherme no comando técnico da nossa Briosa. Numa decisão que se pedia célere, JES optou por chamar para novo timoneiro da equipa o treinador Ulisses Morais.

Esta escolha, longe de ser popular entre os sócios e simpatizantes do nosso clube, tem o cunho pessoal do nosso presidente, apreciador confesso das competências do experiente treinador. Do risco (pessoalmente) assumido por JES e da democraticidade (ou falta dela...) ínsita ao processo negocial, já aqui deixámos expostas as nossas opiniões nos textos do "TF" e do "mitic0", com as quais, aliás, concordo em absoluto.

Com as reservas explícitas naqueles textos, também eu não vejo motivos para uma condenação sumária do "nosso" treinador. Assim, para que fique claro desde já, não pactuo com atitudes radicais de repúdio (que, evidentemente, respeito, em nome do livre arbítrio) dirigidas ao treinador, ao presidente, ou à nossa secular Instituição.

Não visto, portanto, a pele de "Poseidon", colocando-me, desde já, à espreita da primeira oportunidade para atacar Ulisses... Porquê? Muito fácil: apesar de esta não ser a minha (a nossa...) escolha, certo é que este é o homem encarregue da condução de uma equipa que, nesta fase da época (e apesar de dois meses inteirinhos a andar para trás), ainda tem tudo a ganhar ou tudo a perder... Assim, gostando ou não, este é o treinador dos que jogam com o losango ao peito, pelo que, como seguidor da Briosa, só me resta dar-lhe o apoio de que necessita para desenvolver o seu trabalho com a alegria, tranquilidade e dignidade que merece. São as cartas que temos e é com elas que temos de jogar.

A avaliação virá depois... Com as opções, as exibições e os resultados. E aí, cá estaremos (tal como os sócios da Briosa nas próximas eleições)...

Concluído este "ponto prévio", dedicarei agora umas linhas aos desafios que o nosso treinador terá pela frente e às nossas expectativas, enquanto adeptos, em relação aos mesmos.

I. O aspecto desportivo

Não é segredo para ninguém que o futebol da nossa Académica já viveu dias mais tranquilos. O auspicioso início de campeonato deu lugar à intranquilidade: uma equipa de futebol largo, intenso e alegre deu lugar a uma equipa de futebol tristonho, atabalhoado e sem chama (situação que se agravou sobremaneira no "reinado" experimental de José Guilherme).
A manutenção que estava quase garantida ficou comprometida e, neste momento, os 20 pontos de que dispomos colocam-nos num humilhante 13º lugar, a uns escassos 6 da linha-de-água.
Mas nem tudo são desgraças: enquanto se arrastava no campeonato, a equipa conseguiu o apuramento para as meias-finais da Taça de Portugal (embora se encontre já em desvantagem por conta da derrota por 1-0 no terreno do seu oponente).
Conhecida a situação, o que podemos esperar do nosso treinador e da sua (nossa) equipa?
Estes são os jogos que ainda temos pela frente nesta temporada de 2010/2011:

25/02/2011 - Liga Zon Sagres (J 21): V.Guimarães - Académica
04/03/2011 - Liga Zon Sagres (J 22): Académica - U. Leiria
13/03/2011 - Liga Zon Sagres (J 23): Nacional - Académica
20/03/2011 - Liga Zon Sagres (J 24): FC Porto - Académica
03/04/2011 - Liga Zon Sagres (J 25): Académica - Portimonense
10/04/2011 - Liga Zon Sagres (J 26): Sporting - Académica
17/04/2011 - Liga Zon Sagres (J 27): Académica - V. Setúbal
20/04/2011 - Taça de Portugal (2ªMMf): Académica - V. Guimarães
01/05/2011 - Liga Zon Sagres (J28): Marítimo - Académica
08/05/2011 - Liga Zon Sagres (J29): Académica - Sp. Braga
15/05/2011 - Liga zon Sagres (J 30): P. Ferreira - Académica

Conhecido o calendário, ressalta a percepção das dificuldades que esperam o treinador e a equipa. Seja como for, o objectivo prioritário terá de passar pelo alcance da manutenção o mais rapidamente possível (e aqui, até se pode dizer que este treinador já tem algumas provas dadas - a propósito, veja-se o seu currículo no excelente trabalho dos nossos "vizinhos" do blogue "Académica Sempre").
Para além disso, os adeptos esperam ainda que a equipa faça um bom jogo na 2ª Mão da Taça de Portugal, deixando tudo em campo para atingir a Final do Jamor (este objectivo, para além de ter a potencialidade de nos assegurar um lugar na história, garantir-nos-ia, desde já, a presença nas competições europeias da próxima época).
Assim, estou em crer que a manutenção e a presença no Jamor bastariam para que mesmo o adepto mais céptico qualificasse de bom o trabalho de Ulisses (a Taça não se pode exigir, mas se a conseguisse...).

II. O aspecto motivacional

O débil estado psicológico da equipa, fruto das exibições sofríveis, dos maus resultados e da crescente contestação dos adeptos, obrigará Ulisses a um intenso trabalho na psique dos jogadores. Creio que a recuperação psicológica da equipa é, neste momento, uma tarefa crucial para o seu desempenho nas próximas partidas: só uma equipa calma, tranquila, com a noção do seu papel nos diversos momentos do jogo, será capaz de colocar em campo um futebol solto, dinâmico e eficaz (em suma, a antítese das actualmente recorrentes falhas de concentração, intranquilidades, agressividade excessiva e descontrolo emocional).

III. O aspecto técnico-táctico

Para mim, esta é, talvez, a maior incógnita do trabalho do nosso treinador. Do pouco que me recordo das suas equipas, creio que passaremos a alinhar com um meio-campo preparado com um sistema de duplo-pivô defensivo (pelo menos, creio que foi assim no Paços - com F. Anunciação e P.Sousa - e na Naval - com Hauw e Godeméche - ou Baradji?).
Como já aqui deixei escrito em várias ocasiões, não existem, à partida, bons e maus esquemas tácticos: ao "desenho" sobrepor-se-ão sempre os movimentos dos jogadores, as suas características e o seu comportamento nas diferentes "fases" do jogo. Assim, não me assusta, à partida, a opção por um estilo de jogo mais curto e retraído (desde que, na fase ofensiva, a equipa se consiga "esticar" e "alargar" com a fluidez e objectividade requeridas por um contra-ataque bem desenhado). Neste ponto, temos mesmo de esperar para ver...
Contudo, na minha opinião, a grande empreitada de Ulisses será devolver à equipa uma identidade, um sentido de jogo: as rudes "mexidas" de JG retiraram-lhe a sua alma, a sua intensidade, a sua objectividade. Cada jogador precisa de saber exactamente qual a sua posição em campo e, sobretudo, de saber o seu papel em cada fase do jogo (neste momento, pelo que temos visto, para além de Peiser, não me parece que algum jogador tenha a adequada noção da sua posição em campo...).
Esta sim, será uma verdadeira "odisseia", atendendo às vicissitudes que condicionam tal tarefa (o escasso hiato temporal para preparar a equipa e a situação pontual - agora muito pouco tranquila).
Se lograr atingir aquele objectivo, Ulisses estará mais próximo conseguir o que lhe é pedido pelos adeptos e pela Direcção.

IV. Confiança dos adeptos

Outro dos grandes desafios de Ulisses será o de conquistar uma massa adepta que, como sabemos, não confia muito nas suas capacidades.
Do que tenho lido por aí, mesmo antes de iniciar o seu trabalho, Ulisses já é muito contestado por um largo número de adeptos (alguns ameaçam, até, com atitudes bastante radicais!). Por mim, também não considero que esta fosse a melhor escolha para dirigir os destinos da equipa, de qualquer forma, como disse, estou entre os que estão determinados a conceder-lhe o benefício da dúvida e a proporcionar-lhe as condições adequadas para que desenvolva o seu trabalho com a calma de que necessita.
Além disso, a melhor forma de responder ao cepticismo é com profissionalismo, empenho, trabalho e, sobretudo, com resultados... É isso que lhe pedimos.

V. Preparação do futuro da equipa

Para além dos objectivos imediatos, nesta fase da época também é importante começar a pensar no futuro da equipa. Questões como a renovação de contratos dos jogadores importantes do plantel; a contratação - a "custo 0" - de jogadores de outras equipas em final de contrato; e, sobretudo, a potenciação dos jovens do clube que poderão vir a ser importantes no clube; são pontos essenciais da gestão de uma equipa de futebol que nenhum treinador deve descurar.
Nesse sentido, caberá a UM a adequada avaliação do plantel e das suas carências (imediatas e futuras) , bem como um aturado estudo das oportunidades de mercado que entretanto surjam. A somar a isto, num clube como o nosso, exige-se uma supervisão consciente dos nossos recursos próprios: os jovens da academia.
Ao que sabemos, o nosso treinador trouxe consigo um especialista em scouting... Aguardemos...


Enumerados desta forma os desafios que esperam Ulisses nesta "odisseia", resta desejar-lhe muita sorte, bom trabalho e muita inspiração (bem precisa!).

Força rapazes, força Ulisses!

Saudações Académicas,

Pedro Monteiro Almeida

P.S.: A propósito de "odisseia", deixo a Ulisses Morais um conselho do grande Homero:

"A marca da sabedoria é ler correctamente o presente e marchar de acordo com a ocasião."

2 comentários:

Mundo Desportivo disse...

Boas

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Mundo Desportivo
(http://mundodesportivoblog.blogspot.com/)

mitic0 disse...

Curvo-me perante a excelência deste post.


Um abraço ao ilustre Mestre.