08/02/11

Da contratação à gestão do vínculo contratual dos jogadores: aspectos básicos e ideias de sustentabilidade (Parte II– Da gestão do vínculo contratual)

Há uns dias, por ocasião da reabertura do mercado de transferências, havia deixado neste espaço algumas ideias que considero essenciais para se proceder à contratação de jogadores fugindo, tanto quanto possível, a erros de casting ou a soluções que comprometam a sustentabilidade do clube.

Entretanto, a janela de transferências de Janeiro acaba de encerrar e a nossa Briosa contratou apenas um jogador: Adrien Silva (por empréstimo do SCP). Na altura manifestei-me contra soluções deste tipo a não ser que tais soluções tivessem por objectivo colmatar necessidades prementes da equipa. Depois de ver o jogador em acção, estou convencido da sua utilidade e do acréscimo que representa ao nível da qualidade de jogo da nossa Briosa. Parece, portanto, uma contratação acertada… Ficou a faltar pelo menos um central de qualidade (e tantos que foram negociados...).

Encerrado este capítulo, falar-vos-ei de vários aspectos a ter em conta na gestão do vínculo contratual de cada jogador que compõe o plantel.

A manutenção ou eventual prorrogação do vínculo contratual entre o clube e um jogador do seu plantel dependerá, antes de mais, da sua performance nos jogos efectuados ao serviço do clube. Com efeito, a partir do momento em que um determinado jogador consegue manter boas exibições (em termos de qualidade, empenho e consistência), o clube tem dados inequívocos de que o mesmo representa uma mais-valia, devendo, por isso, fazer os possíveis para manter o seu vínculo contratual.

Mas isto, por si só não é suficiente. Por exemplo, a adaptação do jogador à área geográfica em que o clube se insere (ao continente, ao país, à cidade…) é um factor importantíssimo a longo prazo. Caso essa adaptação não chegue a concretizar-se, o jogador nunca alcançará o seu potencial: as saudades do seu país, a antipatia em relação à cidade ou a aversão às condições atmosféricas predominantes na área onde joga são fortes inimigos do alto rendimento. Desta forma, este factor não deve ser descurado na análise que o clube faz do jogador.

Importante é, também, a identificação do jogador com o clube (com a sua história, com os seus adeptos e com as suas ambições). Quando um atleta sinta na pele a importância da camisola que enverga, estará sempre mais determinado e disposto a dar algo mais (e muitas vezes, este acréscimo representa a diferença entre a vitória e a derrota). Por isso, um bom jogador para o clube será aquele que é (ou passa a ser…) seu adepto…

Além disso, é também muito importante que o jogador esteja consciente tanto dos objectivos a que o clube se propõe (tanto daqueles que são assumidos publicamente pelo clube, como daqueles que ficam na privacidade do balneário), como das expectativas dos seus adeptos acerca das metas que o clube deve atingir (sobretudo a curto prazo). Um jogador que tenha perfeita noção destes vectores não ficará tão exposto ao risco de desmotivação quando o clube não ganha (sabe “ao que veio”...).

Questão fulcral nesta matéria é a do “rendimento desportivo previsto”. Neste tópico serão importantes considerações acerca da idade do jogador, do seu potencial ou margem de progressão e da sua propensão para contrair lesões. Começando pelas considerações etárias, todos sabemos que um jogador que passe a barreira dos 31/32 anos tende a sofrer decréscimos acentuados nos seus atributos de ordem física (velocidade, aceleração, resistência...), ainda que possua um capital de experiência bastante vasto (além de que a idade é mais relevante numas posições do que noutras: um guarda-redes terá sempre uma longevidade desportiva superior à dos jogadores de campo...). A eventual prorrogação de contratos de jogadores mais “velhos” terá, por isso, de ser bem ponderada, quer ao nível das remunerações fixas, quer das variáveis (será mais sensato oferecer contratos “por objectivos”, como por partidas jogadas ou golos marcados...). Além disso, os contratos destes, deverão ser sempre de curta duração (1 ou 2 anos), porque não se sabe a dimensão das quedas naqueles atributos físicos.

No outro extremo estarão os jogadores mais jovens. Com estes, a avaliação deverá ser feita consoante o potencial e a margem de progressão que evidenciem: a um jogador com grande potencial e boa margem de progressão deverá oferecer-se um contrato de longa duração e, sobretudo, com uma cláusula de rescisão elevada (só assim será possível proteger as “pérolas” da gula dos “tubarões”...).

Ainda na questão do “rendimento desportivo previsto”, convém analisar a propensão de cada jogador para contrair lesões. Isto pode averiguar-se pelo estudo do historial de lesões de cada um: serão maus indicadores várias lesões do mesmo tipo, várias lesões graves ainda que de tipos diferentes, ou a existência de uma que poderá ter causado mazelas susceptíveis de manifestação mais tardia.

Um factor de origem muito subjectiva, mas que também não deve ser descurado é o das características “pessoais” do jogador: não interessa ter no plantel jogadores que apresentem baixos índices de determinação, de lealdade ou de profissionalismo. A conflitualidade de cada um ou o seu relacionamento com o balneário também são importantes.

Há ainda situações em que, apesar de o jogador não ter grande utilidade desportiva imediata, pode relevar-se frutuosa a sua manutenção nos quadros do clube pela possibilidade de render dividendos em empréstimos ou numa transferência futura, assim o “estudo de mercado” revele essas possibilidades.

Por fim, não pode descurar-se a opinião maioritária dos adeptos em relação ao atleta e à sua condição no clube: são bem raros os casos de jogadores que são constantemente vaiados pelos seus próprios adeptos e conseguem manter um rendimento aceitável... Será importante estar atento aos sinais que vêm das bancadas e aos espaços de opinião dos adeptos (nesse campo, neste espaço temo-nos referido com alguma insistência a um jogador em particular;).

Enfim, hoje ficaremos por aqui, para não alongar em demasia o que já vai longo (além disso, há aspectos relacionados com estas matérias que creio que o TF abordará na parte 2 do seu texto de ontem).

Na continuação deste trabalho, analisarei, na minha “Parte III” a situação contratual de cada um dos atletas que compõem o nosso plantel, aplicando os princípios que hoje aqui vos deixei e, na “Parte IV”, adiantarei alguns nomes que, a “custo 0” poderiam reforçar o nosso plantel na próxima época (e aí espero contar com a ajuda do “mitic0”, um verdadeiro especialista nestas matérias).

Saudações Académicas,

Pedro Monteiro Almeida

Adenda: Os parâmetros que adiantei no "rendimento desportivo previsto", devem ser lidos tendo em conta que "(...) a resistência dum atleta devidamente treinado, isto é sem sobrecargas físicas de treino, tende a ser superior entre os 28 e os 33 anos segundo dados da Federação Internacional de Atletismo" [pelo que, em regra, o declínio de que falo será mais visível após os 33 anos e não logo aos 31] e que "o máximo de velocidade num atleta (...) [ocorre] entre os 20 e os 25 anos, seguindo a mesma fonte, daí considerar-se que um atleta estará no seu apogeu lá para os 26, 27 anos." (dados avançados pelo nosso leitor Sarabia, para ele os nossos agradecimentos pelo seu pronto contributo).

7 comentários:

mitic0 disse...

Tentarei contribuir com algo de significativo, claro.

Gostei e espero que alguém da direcção ande a ler os teus textos.


Cumprimentos Académicos.

Sarabia disse...

Caro Pedro Almeida

Li o texto todo do princípio ao fim. Estou curioso para ver a sequência (até pela participação do caro mitic0) na parte III e na derradeira.
Esqueça por favor o que eu escrevi ontem, este é mesmo o vosso caminho. Quem quiser que aprenda e quem não quiser paciência sendo pena que alguns não vos conheçam.
Vou estar por aqui. Sou adepto confesso do vosso espaço.
Apenas uma nota: a resistência dum atleta devidamente treinado, isto é sem sobrecargas físicas de treino, tende a ser superior entre os 28 e os 33 anos segundo dados da Federação Internacional de Atletismo.
Vou aguardar.

Briosa para sempre

pmalmeyda disse...

Caro Sarabia,

Como já lhe havia dito, é um orgulho ter leitores com a sua qualidade, e temos tentado corresponder às sugestões que nos vão chegando...

Para lhe ser sincero, o texto que hoje publiquei já estava alinhavado há algum tempo (normalmente, escrevo os textos em Word, durante o dia, nas pausas que vou tendo e, ao fim da tarde, "colo-os" num post). Ainda assim, talvez consigamos uma escrita mais apelativa, mantendo-nos fiéis aos princípios a que nos havíamos proposto. Gostaríamos de chegar a toda a comunidade Académica, porque creio que alguns temas merecem ser estudados para alcançarmos o objectivo de uma Briosa com a força do passado.

Em relação ao dado que avança, admito que me era desconhecido. O que escrevi foi baseado num livro que aborda estas matérias e que li há já alguns anos (andei agora aqui a ver na net e acho que foi "The Football Manager - A history", de Neil Carter), mas não tive grande rigor, uma vez que já não o tenho comigo... No fundo, são apenas ideias básicas para quem tem a ser cargo a gestão de um clube profissional.

Saudações Académicas,

Sarabia disse...

Caro Pedro

Ainda por cima responde-me com humildade após mais um texto de grande qualidade.
Sigam o vosso caminho que vai dar frutos, insisto, para vosso bem e para o bem da nossa Académica.
Calculo (supondo que sejam três) que vocês os três estejam numa faixa etária a caminho da resistência o que me faz ter esperança no futuro da briosa. Juntamente com o SB considero-vos do melhor que se lê na blogosfera.
Mais uma nota: curioso que o máximo de velocidade num atleta se dê entre os 20 e os 25 anos, seguindo a mesma fonte, daí considerar-se que um atleta estará no seu apogeu lá para os 26, 27 anos.
Sabe que mais caro Pedro?

Um grande abraço.

Briosa para sempre

Sarabia disse...

...e peço desculpa desde já se não for encontrada escrita minha, é que pode não parecer, mas trabalho cerca de 12 horas por dia tendo normalmente um computador à mão para desanuviar e até para me enriquecer.
Podem é contar que estarei aqui para vos ler.
Força Capas Negras!

Briosa para sempre

Tiago Fernandes disse...

Caros amigos,

O meu dia hoje não foi rico em tempo para me dedicar à parte dois do meu post anterior. Amanhã será no entanto o dia D.

Excelente post meu caro. Começo a achar que temos um equipa pluridisciplinar de alto gabarito e que dará frutos.

Um abraço

pmalmeyda disse...

Pois é caro Sarabia,

Faz muito bem, desanuviar também é preciso... E se der para se aprender qualquer coisa entretanto... Tanto melhor. Aqui talvez não aprenda muito, mas a sua opinião é sempre bem vinda!

Um abraço