04/11/07

120 anos de irreverência. Parabéns ACADÉMICA!

Associação Académica de Coimbra - OAF
(Subsídios para a sua História)
Da Academia e da Briosa à Associação Académica e à ACADÉMICA

A AAC – OAF, é a herdeira natural da Associação Académica que espalhou futebol, alegria e irreverência, durante, quase três quartos de século, pelos campos de futebol de Portugal.
Difícil é marcar-lhe (à Académica, como grupo de futebol) uma data para começo, sobretudo se, com espírito histórico e em termos institucionais, a quisermos definir documentalmente.
Não fixemos, pois, aqui e agora, o quando. Esquematizemos apenas o como.

Temos notícias de que no fim do século XIX, já os estudantes da Universidade de Coimbra brincavam com uma bola no largo fronteiro aos Jardins de Santa Cruz, a Sereia de hoje.
Aceitando, com boa vontade, que essa brincadeira fosse já Footebal, não era, porém, ainda, a Académica, mas seria tão-só a Academia, (melhor dizendo, estudantes da Academia) como se designava desde os tempos do Senhor Rei D. Dinis, o colectivo dos estudantes Universitários. O honroso designativo de Briosa ganhara-o a Academia de Coimbra, pelo menos desde meados do século XIX, pois assim, relativamente a esse tempo, quando ainda se não sonhava com o footbal, a designa já António Cabral no seu Tempos de Coimbra, uma das mais famosas e respeitadas crónicas sobre a Academia coimbrã. Ao contrário do que muitos pensam e alguns, com responsabilidades, escrevem, a Briosa é a Academia, não o seu team de Footebal. Acontece, porém, que o Futebol da Associação Académica era, queira-se ou não, e sem menosprezo de outras actividades culturais, desportivas e mesmo académicas, quem mais dignificava e propagandeava a Academia de Coimbra, a começar pela própria Universidade (perdoe-se a hiperbólica irreverência). Assim, a Secção ganha o epíteto que outorgado fora a toda a Academia – e é como BRIOSA que hoje, desligada, institucional, mas não afectivamente, que está da casa mãe ainda é tratada e reconhecida.

Voltemos, porém, à institucionalização da Associação Académica dos Estudantes da Universidade de Coimbra, pois só após ela se pode falar e entender o surgir institucional da Académica no palco do Futebol Português. O fim de oitocentos do século XIX é o tempo certo – 1887, se a memória, que sustenta este escrito, me não falha.
Se data assim, do final de novecentos a passagem da Academia à Associação Académica, só no início da segunda década do século XX, aparece a Secção de Futebol.

Isto não significa que o futebol académico só então tenha nascido.
Às brincadeiras futebolísticas no frente ao Jogo da Pela dos frades Crúzios, sucederam-se já verdadeiros jogos de footebal, na Insua dos frades Bentos, pelo que se pode dizer que o futebol académico surge abençoado pelas ordens monásticas. Na verdade sabemos que os estudantes e depois mesmo já a Secção de Futebol da AAC, conhecida desde logo simplesmente pela a ACADÉMICA, realizaram jogos no campo da Ínsua dos Bentos - ao fundo de onde hoje é o Parque Manuel Braga - pelo menos até ao aparecimento do Campo de Santa Cruz, cuja construção fundamenta o futebol académico, podendo dizer-se que sem ele nada teria existido.
É certo que ali jogaram ainda os renomados Esquível, Ribeiro da Costa, Guedes Pinto. Galante..., mas a verdadeira Académica, aquela a que nos encontramos misticamente ligados, forjou-se em Santa Cruz.

Nasceu o “Estádio”, comparando com o que antes fora, como quase tudo em Coimbra, da carolice de alguns. Pertencia (pertence?) à Universidade, já que foi a ela que o Presidente Sidónio Pais(*1) doou cem contos que possibilitaram as obras, mas a obra, Obra, foi da Associação Académica. Melhor, por mais verdadeiro, seria dizer que nasceu e avançou mercê do entusiasmo e trabalho, inclusive físico, de um grupo de estudantes, precursores do desporto como factor educativo, Personificaram todo o esforço de anónimos estudantes dos anos vinte, o empenho, o espírito de iniciativa e a dedicação dos posteriormente doutores Armando Sampaio e Matos Beja; Cunha Vaz e Rui Sarmento. O primeiro jogo ali realizado foi em 23/3/1918, contra o há muito desaparecido Império de Lisboa, que a Académica perdeu por 3-2. Também no jogo de inauguração, em Março de 1922, presentes o Ministro dos Negócios Barbosa de Magalhães e o Reitor da Universidade Professor Doutor. António Luís Gomes, saneado pelo Estado Novo, a Académica voltou a perder, agora com o Académico do Porto (3-4). O primeiro jogo oficial que teve lugar em Santa Cruz foi contra o Moderno, para o Campeonato de Coimbra de 1922/23, finalmente a Académica ganhou – 3-0(*2). Embora, já ali se fosse jogando, o campo só tomou forma de recinto desportivo a partir de 1925. Acrescem a estas obras os melhoramentos que vão sendo feitos, nos anos seguintes, traduzidos em vestiários, novas bancadas, um campo de basquete e um tanque de 12 metros. O culminar das obras, com esta pomposamente chamada piscina, deu-se a 31 de Agosto de 1934. A inauguração coube ao então Reitor Professor Doutor João Duarte Oliveira.

Julgo, que relembrando este palco de tantas glórias é obrigatório deixar aqui, pelo menos os nomes dos que, guardando-o, o serviram: o Zé Grande e sua mulher a senhora Mariana, do tempo do Dr. Sampaio; o Senhor Zé dos meus tempos de Liceu e o Senhor Zé Freixo, e sua Senhora, D.Leocádia Freixo, pais dos ex-Atletas escolares, José, Gregório e Luís – bem hajam pelo que por este glorioso palco fizeram

(Gonçalo dos Reis Torgal - in Coimbra - Boémia da Saudade, Coimbras 2004 - III Volume)

(*1) - Sampaio. Armando – in Cinquenta anos depois. Autor, Coimbra 1982, pág. 66
(*2) - Santana, João –id. Ibd. Adende-se que, se quisermos ser rigorosos, não foi este o primeiro jogo oficial ali disputado, já que, conforme se lê numa placa do Santa Cruz, ali aposta em 22/10/1942 – 20º Aniversário da A.F.C. os jogos desse dia (3/12/1922), abriram com o jogo de 3ªs Categorias entre os Onze Brancos e o Esperança F.C, arbitrado por Aurelino Lima a que se seguiu um A.A . – Conimbricenses também em terceiras, arbitrado por Luís Lucas; jogaram depois o União e o Avis Atlético Clube, em 2ªs categorias, sendo árbitro Alberto Morais. Só depois se defrontaram as 1ªs Categorias da Académica e do Moderno, jogo arbitrado por Mendes Leal, de Lisboa.

in site oficial aac-oaf

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