17/01/11

Ganhar sem (con-)vencer e vencer sem ter ganho

Instado “a adivinhar” o resultado do jogo do rival Arsenal (que defrontava o Aston Villa), na derradeira etapa do campeonato inglês da época 1998/1999, Sir Alex respondeu: “- Será, certamente, um de três: ganham, perdem ou empatam. Mas isso não importa nada se não vencermos o Tottenham.” Tanto o seu United como o Arsenal venceram os respectivos jogos e o United sagrou-se campeão por um ponto. Para a história ficou apenas o resultado e o campeonato do United, que até foi (dizem...) a melhor equipa durante toda a temporada. Do que já ninguém se recorda é da forma como venceram esse último jogo... Se o futebol fosse sempre justo e sem malabarices, o empate a 1 teria sido o resultado do encontro e o Arsenal, que no outro campo vencia os villans por 1-0, teria mesmo vencido o campeonato! Vale a estatística, e esta atribui 3 pontos a quem vence e nenhum ao derrotado ou 1 a ambas as equipas quando o resultado é um empate... O resultado, esse, apura-se pelos golos que cada equipa efectivamente marca. Um penálti mal assinalado, um golo validado em claro fora-de-jogo ou a expulsão indevida de um jogador podem alterar esse resultado, mas o que conta é o juízo do árbitro... O que acha que é passa efectivamente a ser e, a partir desse momento, nada há a fazer: contam-se os golos no final e atribuem-se os pontos respectivos. Não há pontos para os injustiçados (quando os haja...).

Sobre o jogo de ontem que opôs a nossa Briosa ao Benfica já muito se disse e escreveu (e digo “muito” porque se o adversário fosse o Paços, escrevia-se “muito pouco”...). Tal como na história que acima contei, daqui a dois ou três anos, já pouca gente se lembrará deste jogo e ainda menos serão os que recordam do seu resultado... Do que se passou em campo, então, ninguém se recordará. O futebol é assim: 3 pontos, 0 pontos ou 1 ponto... O SLBê acrescentou 3 ao seu pecúlio e a Académica...0... Tudo bem, é o que fica do 0 (= a 0 pts)-1 (= a 3 pts).

Portanto, no apuramento deste resultado (como em todos os outros) não contou que o golo do nosso adversário fosse obtido com um fora-de-jogo “visível do Penedo da Saudade”, que a equipa teoricamente mais fraca jogasse com menos um jogador durante uma hora, entre outras coisas... Ficou o resultado: eles ganharam (três pontos) e nós perdemos. Ganharam, porque alguém decidiu que ganhavam: mas não nos venceram (no sentido em que não foram melhores que nós). Parece parvoíce e se calhar até é, mas respeitem porque é assim que me sinto...

Do jogo levou então o Benfica 3 pontos e acrescentou-os aos que já tinha. Terá convencido alguém de que era melhor que a Briosa? Não creio... Os próprios benfiquistas mostraram o desagrado pela exibição da sua equipa e os próprios jogadores admitiram que não mereciam ganhar (veja-se o discurso de Gaitán). Portanto, para além dos 3 pontos levaram o sabor amargo de uma vitória que não mereceram (e não sou hipócrita porque também não merecemos ganhar em Setúbal, embora o tivéssemos feito sem a ajuda do árbitro), a preocupação de que uma equipa a jogar assim dificilmente vence sem a ajuda do árbitro e, por último, a certeza de que ainda têm um caminho muito longo até chegarem aos calcanhares do futebol praticado pelo seu grande rival (os estarolas do Norte). Fiquem, então, com os 3 pontos e desejo-lhes as rápidas melhoras (um dia vencem-nos mesmo, a sério)...

E a Briosa, que ganhou? 0 pontos. Lá está, perdemos... Mas este "0" é diferente de nada. Para mim, ganhámos uma equipa que parecia irremediavelmente perdida, mostrámos brio (aquele da BRIOSA), esforço, trabalho, espírito de sacrifício e solidariedade. Mostrámos que pelo menos ontem, não fomos inferiores a uma equipa de milhões: um jogador do SLBê pagaria a equipa toda da Académica, mas (provou-se ontem...) não vale mais...

Há muito de positivo a retirar do jogo de ontem... Se vencemos alguma coisa, ver-se-á, por exemplo, no próximo Sábado em Olhão, ou na próxima eliminatória da Taça frente ao Setúbal. É isto que José Guilherme tem de mostrar aos nossos jogadores. Por mim, tenho apenas duas certezas: o orgulho que senti ontem em ser 100% da Académica e a de que lá estarei (como sempre e como dantes) lado-a-lado com a Académica e os academistas nos combates que se avizinham. Estes somos nós, contra tudo e contra todos, com trabalho, sacrifício e suor.

E venceremos.

Saudações Académicas

Pedro Monteiro Almeida


5 comentários:

mitic0 disse...

Sem dúvida.

Está-se a entrar num certo discurso extremado em certos sectores academistas. Falo tanto do sectarismo como o passar da depressão à euforia num piscar de olhos.

Acho importantíssimo que nos focalizemos no importante: manter a identidade (o que inclui ser um clube rebelde e de causas), que se distinga dos demais pela atitude ímpar no desporto nacional (rejeitando o resultadismo).

Enfim, quero é jogadores Briosos. Atletas na verdadeira acepção da palavra e todos os valores que tal estatuto acarreta.

Cumprimentos Académicos.

Pedro Santos disse...

Exacto, a Académica foi sempre uma Instituição rebelde, mítico. É por isso que ma faz muita impressão o "politicamente correcto" que está instituído na Briosa de há uns tempos para cá...

Tiago Fernandes disse...

Só a palavra político já me causa arrepios quando usada em consonância com um clube de futebol...

mitic0 disse...

Caro Pedro Santos,

Quando falo em rebeldia, quero significar exactamente isso. Uma instituição de resistência, em permanente desafio e que defende aquilo em que acredita.

Não confundo isso no entanto com facciosismo vazio, populismo ou até recorrendo ao insulto fácil, como infelizmente já vai acontecendo.

É possível rejuvenescer o clube sem recorrer a tácticas que degradam o ADN da Briosa!

pmalmeyda disse...

É exactamente isso: temos de mostrar que continuamos a ser diferentes mantendo aquilo o que sempre nos caracterizou. Não é preciso ser "elitista" ou sempre "politicamente correcto": é preciso é encarar os desafios com "fair play" e respeito pelos adversários e por quem não pensa como nós.

Também é verdade que há adeptos e clubes que exigem de nós um esforço suplementar de compreensão;)... E não é menos verdade que a Briosa é um clube que não tem grande sorte com as arbitragens e com as vicissitudes do "sistema"...

Ainda assim, o caminho é para a frente, domingo a domingo... E temos é de fazê-lo juntos ao lado da Briosa.

Saudações Académicas