13/01/11

Diogo Gomes e as "nuances" tácticas do 4x3x3

Se algo de positivo se pode retirar dos primeiros esboços da Académica nesta versão de José Guilherme é precisamente a maior utilização de um médio que, em muitas fases da sua estadia em Coimbra (e por diferentes motivos...), parece quase esquecido. Estou a falar precisamente de Diogo Gomes, um médio multifacetado (e polivalente) que pode desempenhar várias posições no meio-campo e que assinou duas boas exibições nos últimos 2 jogos (tendo mesmo marcado 2 dos 3 golos com que a Briosa acaba de eliminar o União da Madeira na Taça de Portugal).
Ainda não é claro se a aposta do treinador da Briosa neste jogador se deve ao preenchimento de uma (clara) lacuna da equipa, se a uma alteração meramente motivada pela lesão de Nuno Coelho (que obrigou ao recuo de Diogo Melo para a posição de trinco, abrindo uma vaga no meio-campo). Daí as considerações a que aqui nos propomos.
A Académica de Jorge Costa apresentava um 4x3x3, com um meio-campo a 3 (ou a 5, na transição defensiva) preenchido por Nuno Coelho em clara posição 6 e dois interiores - Diogo Melo e Hugo Morais - no apoio a um (contra-) ataque que se pretendia de transição rápida, dependendo da velocidade imprimida pelos alas Sougou e Diogo Valente e das movimentações atacantes do ponta móvel Miguel Fidalgo (ou de Éder, consoante as necessidades da equipa e as vicissitudes do próprio jogo). A funcionalidade da vertente atacante deste esquema não esteve em causa na maior parte da primeira volta, em que a Briosa até se cotou como um dos ataques mais produtivos. Já a vertente defensiva, como sabemos, nem tanto... Havia um problema: as coisas funcionaram enquanto os adversários não perceberam que a Académica jogava sempre da mesma forma (apesar de tudo, um futebol bastante agradável...) e que até as substituições eram "decalcadas". O que era bom passou a ser menos bom: os adversários resguardaram-se contra os contra-ataques rápidos, a equipa deixou de ter a produção ofensiva que ostentara no início e, com as carências defensivas que nunca deixaram de estar presentes o resultado só podia ter sido um: a derrota... Era preciso uma alternativa de jogo e JC já nem chegou a ter oportunidade de a implementar, dada a sua saída em Dezembro.
Com Janeiro chegou José Guilherme, um (quase) desconhecido nestas lides, que parece ter tentado aproveitar parte do mesmo 4x3x3, mas tentando conferir-lhe uma maior consistência defensiva (pelo menos no plano das intenções). O resultado, nas duas primeiras amostras, tem sido uma Académica muito mais presa de movimentos, demonstrando alguma desorganização sobretudo no sector intermediário. Falhou muito mais na construção ofensiva e viu-se um futebol quase confrangedor, "aos repelões" e sem brilho. Mas há que dar tempo ao treinador e aos jogadores... Ainda assim, assistimos, então, ao regresso de Diogo Gomes a um meio-campo em que ainda não tinha tido grandes oportunidades na corrente temporada (algo a que uma lesão de dois meses e meio também não terá ajudado). Não se sabe, como disse, se o regresso de Nuno Coelho não o remeterá, de novo, para o banco. A verdade, é que sou defensor da sua maior utilização.
Ora, o que poderia mudar com a presença deste jogador no onze-tipo da Briosa? Na minha opinião, após o regresso de Nuno Coelho, o meio-campo deveria incluir, para além deste, o mesmo Diogo Melo e, ainda, Diogo Gomes em detrimento de Hugo Morais. No entanto, note-se desde já, que tal troca traria implícita uma alteração subtil mas extremamente útil na configuração do 4x3x3: em vez de um trinco e dois interiores a jogar lado-a-lado, subindo alternadamente consoante os movimentos atacantes dos laterais e dos alas, passaríamos a jogar com dois interiores de características diferentes. Vejamos: manteríamos Nuno Coelho a trinco e teríamos um 8 (Diogo Melo) que faria a ligação entre os sectores do meio-campo na fase atacante e (bem mais importante) que ajudasse o primeiro a tapar os caminhos à frente dos centrais na fase defensiva (funcionando como uma espécie de segundo pivô). Neste contexto específico, Diogo Gomes poderia assumir um papel importantíssimo no meio-campo e na construção ofensiva do jogo academista (uma espécie de falso 10), fazendo uso das suas características únicas neste plantel: boa visão de jogo, bom posicionamento, boa técnica, boa capacidade de passe e um considerável poder de remate de meia distância (ao que se pode juntar um óptimo jogo de cabeça extremamente útil em situações de bola parada). Assim, com um posicionamento adequado dos outros dois médios de raiz (obviamente diferente nas transições atacantes e defensivas), libertar-se-ia este outro para ajudar numa construção mais vertical (e clarividente) do ataque estudantil. Em vez de um jogo para-o-lado, que tem sido tendência natural para Nuno Coelho, Diogo Melo e Hugo Morais, incluir-se-ia um médio com capacidade para levar o jogo para a frente, algo que seria essencial sobretudo nos casos em que, por um motivo (a entrega da construção à Académica, fechando a defesa, utilizando contra-ataques rápidos, apoiado na velocidade dos alas, como fez o Marítimo) ou outro (a correcta utilização da armadilha do fora-de-jogo de que foi exemplo o Braga), o jogo de contra-ataque rápido não resulte. A incorporação deste jogador teria, portanto, a capacidade de dotar a equipa de uma recurso valioso: a construção vertical organizada, que pode perfeitamente complementar o bom jogo de contra-ataque rápido apoiado na velocidade e técnica dos alas, que já temos evidenciado. A acrescentar a isto, nos ataques de construção larga, a Académica teria ainda a possibilidade de colocar mais um elemento na área, onde tantas vezes Miguel Fidalgo (ou Éder), não têm companhia, o que leva à perda de inúmeras jogadas de ataque nos centrais adversários: com a entrada de Diogo Gomes vindo de trás haveria mais presença na área adversária (ainda por cima com poder físico e bom jogo aéreo) e, consequentemente, mais possibilidades de aproveitamento daquelas jogadas.
Como "não há bela sem senão", exigir-se-ia ao próprio Diogo Gomes mais capacidade física para recuar com rapidez nas transições defensivas (no momento de ataque em que a equipa perde a posse da bola), e isso é algo que este jogador nem sempre tem evidenciado... Além disso, com a saída de Hugo Morais perdem-se os livres quase mortíferos do seu pé esquerdo e capacidade de segurar e circular bola quando seja necessário segurar resultados. Desta forma, aconselha o bom-senso que a opção por um ou por outro (ou por outros jogadores...) seja feita em função das necessidades da equipa e as ocorrências de cada desafio. Creio que estas alterações podiam ser positivas para o jogo da nossa Briosa.

E pronto, aqui fica o meu contributo nesta questão. Compreendam que não sou, nem pretendo ser (ao contrário do que aquele adepto que viu o jogo com o Paços 2 filas à frente possa dizer;) um entendido na matéria. Mas o que me falta em conhecimentos técnicos é compensado pelo amor incondicional que tenho à nossa Briosa.

Saudações Académicas,

Pedro Monteiro Almeida

3 comentários:

mitic0 disse...

Entrada a pés juntos no blog.

welcome.

PSF disse...

Parabéns. Muito bom comentário.
Gostava de ver mais análises destas na blogosfera Académica.
PSF

pmalmeyda disse...

Obrigado pelo seu elogio. Tentaremos, sempre que possível, contribuir com as nossas ideias nestes espaço.

Saudações Académicas