As infelizes 3066 almas que marcaram presença no ECC nesta noite gelada de Março, ainda estarão, como eu, a amaldiçoar as duas horas do seu fim-de-semana que desperdiçaram para assistir a este “jogo”. Para os sortudos que não puderam ou não quiseram assistir a este espectáculo deplorável, creio conseguir resumir o jogo no seu próprio resultado: ZERO...
O ponto atribuído a cada uma das equipas penaliza (ou premeia?) a pura e total falta de respeito com que trataram aquele que muitos consideram “o espectáculo mais belo do Mundo”. Entre uma equipa que só se preocupou em guardar a sua baliza e praticar anti-jogo e outra que, embora demonstrasse, a espaços, alguma intenção de atacar, denotava uma gritante inépcia e falta de objectividade, pode dizer-se, com inteira justiça, que o futebol não apareceu hoje no ECC... Uma perfeita e completa nulidade: ZERO... Um verdadeiro hino àquilo em que se transformou o nosso campeonato (e depois queixam-se da falta de espectadores nos estádios...). Só mesmo o meu amor doentio a este clube me manteve naquela bancada (e aproveito para pedir desculpa àqueles que arrastei comigo para uma tortura desta magnitude, prometo que não volta a acontecer...).
Dito isto (porque tinha mesmo de ser dito), vamos à (curta) história do “jogo”.
O “pacto de não agressão” subscrito por ambas as equipas esteve oculto até aos 15’ de jogo. Nesse curto período, parecia que as equipas queriam lutar pelos 3 pontos: o jogo começou bastante aberto, numa toada de ataque-resposta, o que, assim por alto, deve ter dado 3 ataques da Briosa e 2 do UDL. E pronto, com uma honrosa excepção (o cabeceamento de Luiz Nunes à trave), não se viu mais futebol (da próxima vez, sugiro que acabem o “jogo” logo ali e devolvam o dinheiro aos espectadores: 1 ponto para cada um e poupavam-nos o suplício...).
O que aconteceu, então, no hiato temporal entre os 15 e os 90’? NADA... O UDL “escondeu-se” no seu meio-campo (defendeu mesmo com 11 jogadores, acho que nunca tinha visto tal coisa...) e entregou a iniciativa de jogo à Académica (hoje, nada “Briosa”...), que nunca escondeu uma inacreditável incapacidade atacante. Muito jogo para trás e para os lados (só por curiosidade, passei os olhos pelas estatísticas oficiais do site da LPFP e descobri que 49%! dos nossos passes foram feitos para os lados e 18% para trás...), pouca certeza no passe e uma construção atacante pouco incisiva e nada objectiva.
E pronto, com o UDL a jogar “para o ponto” e a Académica sem ideias, o 0-0 acaba por não ser surpresa para ninguém (aliás, os 29! pontos que aquela equipa já amealhou são um enorme mistério: creio nunca ter visto uma equipa tão fraca nesta temporada – apesar de terem perdido Silas, Carlão e Cássio). Já assisti a muitos jogos de futebol fraquinhos, mas este entra, sem espinhas, para o top5...
O treinador e a arrumação táctica
Depois do jogo com o VSC, em que decidiu (bem) não “inventar” na construção da equipa, esperava-se que o aumento quantitativo e qualitativo das opções permitisse a Ulisses Morais lançar em campo uma Académica na sua máxima força, com os seus melhores executantes. No entanto, o nosso treinador resolveu, desta feita, seguir um caminho diferente...
Pelos nossos alinharam de início: Peiser; Pedrinho, Berger, Luiz Nunes e Addy; Adrien, Diogo Gomes e Hugo Morais; Sougou, Éder e Diogo Valente. É o treinador que trabalha com os jogadores durante a semana e por isso será sempre ele o mais capacitado para decidir quem está em melhores condições para entrar em campo. Ainda assim, há erros de casting que saltam à vista... Em que universo é que Addy é melhor lateral-esquerdo que o Hélder Cabral? Como é que o Diogo Melo começa o jogo no banco e o Hugo Morais a titular? Dou de barato que U.M. acabou de chegar ao clube e tenha resolvido manter a equipa que venceu o último jogo, mas se temos melhor, porque não colocar o melhor em campo?
Curiosamente, também a nível táctico não se verificaram alterações em relação ao último jogo.
Alinhámos de início num 4-3-3 de matriz defensiva, com os três médios jogando muito juntos em “triângulo”, com Adrien e Diogo Gomes (?) na base, como pivôs defensivos e Hugo Morais um pouco mais avançado (estes últimos trocavam frequentemente de posição). Nas transições ofensivas a equipa estendia-se (cautelosamente) com a subida simultânea dos alas, um lateral alternadamente - consoante o flanco utilizado – e um (!) médio no apoio aos avançados (quando uma equipa ataca assim e a outra defende com 11, o resultado tem mesmo de ser o 0-0!). Queria, também falar das fases defensivas, mas nem deu para ver, porque o UDL não atacou (e quando o fez foi de bola parada bombeada para o meio-campo da Briosa - e se não acreditam, vejam as estatísticas do jogo...). Mau demais...
Tenho ainda outro reparo: é preciso treinar cantos e cruzamentos para a área em geral. É inadmissível que numa equipa de 1ª Liga os jogadores não consigam fazer um centro em condições (conheço jogadores das Distritais que os fazem de olhos fechados!). Por isso é que em 9 (!) cantos apenas em uma ocasião a bola chegou a um jogador da nossa equipa...
Por outro lado, aquela combinação no livre marcado por Diogo Melo aos 55’, denota trabalho e isso é de saudar.
E pronto, quem “ataca, defendendo” contra uma equipa que só defende, “arrisca-se”, de facto, a não sofrer golos (e pelo que li do flash interview, o objectivo era principalmente esse), mas também não os marca e não ganha o jogo (não se pode jogar em casa contra uma equipa fraquíssima com os mesmos princípios tácticos que se utilizam para jogar fora com o 4º classificado...). NOTA 2
Árbitro
Uma vez que vi o jogo no estádio, não tenho a percepção adequada do trabalho de Bruno Esteves. Ainda assim, posso apontar-lhe um erro: aos 55’, Marcos Paulo corta em falta um contra-ataque rápido da Briosa e é-lhe perdoado o cartão amarelo; passados 2 minutos, o mesmo jogador, num lance a papel-químico volta a fazer falta e vê (bem) o cartão amarelo (seria o segundo caso não tivesse havido condescendência no 1º lance!). Mas também perdoou um amarelo a Sougou em jogada idêntica...
Além disso, ficaram-me dúvidas quando Miguel Fidalgo cai na área aos 88’, mas, sem repetições, aceito o julgamento.
De resto, só esteve mal (muito mal!) na colaboração com o anti-jogo praticado pelo UDL no final (mas até lhe agradeço porque 93’ daquele “futebol” já foi muito tempo). NOTA 3
Os jogadores, um a um
Peiser: Estamos habituados a uma “folha de serviço” repleta de grandes defesas e acções providenciais. Provavelmente, se tivesse oportunidade, ontem não seria excepção. Todavia, o Leiria acertou apenas uma vez na sua baliza: um remate (passe?) inofensivo, na cobrança de livre, aos 25’. De resto, admiro-lhe a resistência, uma vez que estava frio de mais... Já leva dois jogos sem sofrer golos. Tranquilo. NOTA 3
Pedrinho: Teve o azar de apanhar no seu raio de acção o único jogador do UDL capaz de fazer alguma coisa com uma bola de futebol: Rúben Brígido (fixem o nome...). Sendo verdade que perdeu alguns lances para a velocidade e técnica daquele jogador (raramente teve a ajuda de Sougou), também é verdade que foi conseguindo fechar o seu corredor. Subiu pouco e nem sempre bem, mas o elevado índice de recuperação de bolas (26!), justificam a sua nota. Batalhador. NOTA 3
Luiz Nunes: Continuo a dizer que não compreendo a ostracização de que tem sido alvo. Voltou a fazer um jogo seguríssimo, cortando e aliviando um sem número de bolas. A sua evidente lentidão é compensada pelo seu sentido posicional e pela sua lucidez e experiência. Além de ter cumprido na defesa, ainda teve na cabeça a única oportunidade de golo do jogo, atirando à trave (aos 35’). Um dos melhores em campo. NOTA 3,5
Berger: É um óptimo central. Corta bolas em catadupa, corre quilómetros nas “dobras”, está sempre no caminho da bola. É imprescindível na nossa defesa. “Secou” Fabrício e Cacá e ainda se aventurou no meio-campo adversário. Hoje não mostrou tanta clarividência na escolha dos locais para onde “cortou” as bolas, mas quando não se pode jogar bonito, mais vale não inventar. Bom jogo. NOTA 3
Addy: A menos que Hélder Cabral estivesse com problemas físicos, não compreendo a sua titularidade. Se a defender não teve grandes problemas (e ainda deixou fugir Leandro Lima uma ou duas vezes), foi um desastre a atacar. Perdeu um número absurdo de bolas, errou demasiados passes e não conseguiu combinar com D. Valente. Quando a bola lhe chegava, enviava-a, sem excepção, para trás ou para o lado (parecia que “queimava”...). Para mim, não tem, sequer, lugar no plantel. Péssimo. NOTA 2
Adrien: Estava a ser o motor da equipa e o grande responsável pelo bom início da equipa até fracturar o 5º metatarso do pé direito. Saiu e foi rendido por Diogo Melo. Desejos de rápidas melhoras. NOTA 2,5
Diogo Gomes: Fez o jogo que caracteriza a exibição da equipa: atabalhoado, trapalhão, pachorrento e sem ideias. Nota-se que o futebol está lá, mas hoje não saiu. Uma boa jogada de insistência aos 14’ e um remate fraco aos 79’ é tudo o que guarda deste jogo. Fraquinho. NOTA 2,5
Hugo Morais: Também não compreendo a sua titularidade: pouco clarividente a sair para o ataque e muito lento a recuperar, é um jogador a menos em campo. Falhou inúmeros passes, deixou-se antecipar várias vezes e esteve mal a ocupar os espaços. Teve um bom cruzamento aos 31’, um remate precipitado aos 39’ e um livre bem marcado a que Sougou não soube dar sequência aos 44’. Mau demais. NOTA 2
Sougou: Muito veloz, como sempre, foi o único elemento do ataque da Briosa que provou saber o caminho para a área adversária. “Meteu no bolso” Patrick (90’), Hugo Gomes (28’) e Iturra (10’), mas depois quase nunca conseguiu dar o melhor seguimento às jogadas. Acabou por se diluir na pasmaceira geral e perdeu algumas bolas. Ainda assim, se todos tivessem jogado como ele, tínhamos ganho. Incisivo. NOTA 3
Diogo Valente: Foi outro dos que não esteve no relvado hoje. Perdeu jogadas atrás de jogadas, não conseguiu combinar nem com Addy, nem com Pedrinho e nem nas bolas paradas esteve ao seu nível. Um “apagão” completo... Saiu (tarde) aos 72’ para entrar Laionel. Inócuo. NOTA 2,5
Éder: A contrastar com o que fez na semana passada, não conseguiu entrar no jogo. Não ganhou bolas, não se desmarcou, não pressionou e nem sequer chegou a rematar nos 62’ que esteve em campo. Inofensivo. NOTA 2
Diogo Melo: Não compreendo como começou o jogo no banco! Não seria melhor ter começado na posição “8” em vez de Hugo Morais? Bem, o certo é que, por força do infortúnio de Adrien, entrou aos 15’ e ainda conseguiu afirmar-se como “Melhor em campo”. Correu, lutou, recuperou bolas (20!), iniciou ataques, cobriu as (constantes) asneiras dos colegas de sector e ainda foi o mais rematador. Teria, ainda, marcado um golo na marcação daquele livre aos 55’, se não fosse o pé de Patrick... Grande jogo! NOTA 3,5
Miguel Fidalgo: Entrou ao minuto 62’ para render o apagado Éder. Conseguiu fazer pior... NOTA 1,5
Laionel: Como de costume, entrou cheio de velocidade aos 72’ para substituir Diogo Valente. Trouxe irreverência e velocidade, mas não conseguiu alterar o rumo dos acontecimentos. Tardio. NOTA 2,5
Como apreciação final, espero sinceramente não voltar a presenciar um espectáculo tão pobre (mesmo a grande Mancha Negra merecia melhor prenda de aniversário...). É que assim dá que pensar se valem a pena as idas ao estádio, as horas "perdidas" no blogue e o sofrimento constante...
Compreendo que com mais 3 ou 4 pontos estamos “a salvo”, mas é de notar que, dos jogos que faltam, apenas Portimonense e Setúbal são adversários nitidamente inferiores (e são inquestionavelmente superiores ao UDL...). Às vezes a falta de ambição paga-se cara...
Saudações Académicas,
Pedro Monteiro Almeida
6 comentários:
Concordo com quase tudo, a saida do adrien fez perder a qualidade ofensiva, o diogo gomes e addy não estiveram em campo. Falhamos naquilo que se deve fazer com estas equipas remates a entrada da área, o problema é que fizemos poucos e os que fizemos foram fracos. A culpa maior nem é do treinador, mas sim do jogadores que mão jogaram.
Eu também não entendia porque é que não se contava com o Luiz Nunes, jogador que sempre achei muito competente e cheio de experiência. No entanto parece que não é apenas o problema do excesso de peso que o tem colocado de fora das opções dos vários treinadores. Sem haver confirmações oficiais (como é habitual na nossa Instituição), fala-se que ele tem um problema crónico nas costas que pode manifestar-se a qualquer momento. Se puxarem pela memória lembrar-se-ão que na época passada esteve várias semanas lesionado com uma lombalgia... Será verdade? Não sei e, sinceramente, espero que não seja, porque considero que faz com o Berger a melhor dupla de centrais da Briosa (de longe).
Epá eu não concordo nada com a avaliação ao Addy. Eu gostei e muito dele na segunda parte. Em termos ofensivos foi dos jogadores mais dinâmicos da equipa embora tendo em conta a capacidade ofensiva da equipa não seja grande elogio. Mas pronto são opiniões. Por exemplo o jornal a bola referenciava o Morais como o melhor em campo e aqui foi dos que teve piores notas o que também não concordo. O Melo sim, fez um bom jogo.
Cumprimentos
O Diogo Melo tem que ser titular! E admiro muito mais o Addy do que o Cabral
Abraços
Mais uma douta análise.
Concordo em tudo, inclusive no Addy, que na minha opinião fez um jogo lastimável.
Ok, são opiniões... De qualquer forma, temos de concordar que é preciso fazermos bem mais e bem melhor. O que aconteceu ontem foi a mais pura negação do que deve ser o futebol... Oxalá façam melhor na próxima semana (se bem que o calendário já não é tão favorável).
Se o que o Pedro Santos diz é verdade, consigo compreender os longos períodos de ausência do L.Nunes (claro que como adeptos, tínhamos o direito a informações desse tipo...). Também me parece claro que esta é, sem sombra de dúvidas, a melhor dupla de centrais...
Saudações Académicas
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